quarta-feira, 30 de dezembro de 2009


ESPERANÇA

(Mário Quintana)


Lá bem no alto do décimo segundo andar do Ano

Vive uma louca chamada Esperança

E ela pensa que quando todas as sirenas

Todas as buzinas

Todos os reco-recos tocarem

Atira-se

E— ó delicioso vôo!

Ela será encontrada miraculosamente incólume na calçada,

Outra vez criança...

E em torno dela indagará o povo:

— Como é teu nome, meninazinha de olhos verdes?

E ela lhes dirá(É preciso dizer-lhes tudo de novo!)

Ela lhes dirá bem devagarinho, para que não esqueçam:

— O meu nome é ES-PE-RAN-ÇA...


Texto extraído do livro "Nova Antologia Poética",
Editora Globo - São Paulo, 1998, pág. 118.

Presente de Terê Penhabe

sábado, 26 de dezembro de 2009


Do escritor portugues Miguel Souza Tavares.

“- E de novo acredito que nada do que é importante
se perde verdadeiramente.
Apenas nos iludimos, julgando ser donos das coisas,
dos instantes e dos outros.
Comigo caminham todos os mortos que amei,
todos os amigos que se afastaram,
todos os dias felizes que se apagaram.
Não perdi nada,
apenas a ilusão de que tudo podia ser meu para sempre”.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

PAIXÃO INESPERADA
Rosângela do Valle Dias


Chegaste de mansinho...

Um tremor tomou conta de mim.
Emudeci.
A emoção não me permitia reação.
Os teus olhos, fixos nos meus,
falavam com uma luz invisível,
nunca percebida por mim em outros olhares.
Tua boca linda, farta, atraente...
torneada com pedaços de desejos,
tinha um imã potente.
Ao falares,
tua voz penetrou-me a alma.
Forte como um trovão,
clara como a verdade,
nítida como a eternidade.
Uma mistura de doçura,
sensualidade, rouquidão...
Sentimentos em ebulição!
Abraçaste-me!
O mundo não mais girava ,
eu atingira o céu na terra, desfalecia...
Ah, paixão!Tomaste conta do meu sentir,
devastastando a minha inocência,
adormecendo a minha decência,
paralisando o meu reagir.
Chegaste de mansinho...
Da minha paixão tornei-te conivente,
dos meus desejos um confidente,
da vida,
o único amor revivente.

BH/MG

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

CARTA AO CORREIO
Sylvia Cohin

Prezados senhores escrevo
um documento importante
e peço que distribuam
se possível, nesse instante.


Procuro pela alegria
no rosto da minha gente
fartura de pão e roupa
trabalho e comida quente!


Quero encontrar o Idoso
que sem viço espera a sorte
do amparo e da Saúde,
que afaste o temor da morte...


Procuro a Esperança perdida
no rosto do meu Irmão...
de tanto lutar na vida,
e ver que foi tudo em vão!


Ao Correio estou pedindo
que ache o pai desempregado,
a mãe que procura o filho,
um “menor abandonado”...


Visite as habitações
na barranca do ribeiro,
na solidão dos grotões,
a palhoça do roceiro...


Dos presídios não esqueça,
bandoleiros... marginais...
leve este alento e não meça,
muitos cá fora, são mais...


Quero encontrar esse povos
em Justiça e sem Defesa
que acredita no que dizem,
reparte a Fome na mesa!


Leve alento aos brasileiros
que da Pátria desertaram,
garimpando no estrangeiro,
o Ouro que lhes negaram.


Espalhe p’ra todo o povo
que o que procuro é banal,
um sonho que não é novo
e pode ser bem Real...


Vá à procura do abraço
guardado para o Amigo
e desfaça do embaraço
do ressentimento antigo...


Procure por mim as Crianças
que na espera temporal,
pedem cheias de Esperanças,
o seu Sonho de Natal...


Peço que corra, ligeiro,
o Ano está a findar
encontre no Mundo Inteiro,
quem não vai comemorar...


Preciso desses pedidos,
senão, p'ra que tanta festa
se no Lar dos Esquecidos,
se tem festa... é do que resta!


Assinado,Sylvia Cohin
Bahia - Brasil, 24.11.2004
Reeditado em Porto, 11.12.2007
http://chavedapoesia.blogspot.com

domingo, 6 de dezembro de 2009


CANTO DE AMOR
Rosângela do Valle Dias


Amor em cordas vibrantes,
sonorizando os ais, em cantos.
Na solidão da multidão
o querer torna-se inevitável.
Eu ouço a suavidade da paixão
solfejada por lábios emudecidos.
Eu sinto um amor diferente e
o canto incessávelmente,
só para você...
Um encanto de viver!

BH/MG
10/12/2008

Poemeto da série "Pedaços de Mim".

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009


VOAR...EU QUERIA TANTO!
Rosângela do Valle Dias


Nas asas de um albatroz,
Vôo cortando os mares.
Acima das ondas cantantes,
ouvindo suaves canções
em seus acordes originais,
posto-me em silêncio profundo,
até o pouso no cais.


Na minha chegada,
ouço gemidos roucos
vindo das embarcações.
As minhas emoções se refletem
no imenso espelho d`água...
São missões divinas que as ondas
arrastam para a Grande Morada.
Nos versos nascidos de seres imortais
transformei os gemidos
em canções de paz.


Agora vai... voa Albatroz !
Pelos mares que atravessei...
Volta ao ponto que cheguei,
traz o sonho que deixei
perdido nas ondas do mar.
Traz o amor Divinal
que eu tanto quis afinal.
Estarei esperando no cais
a sua volta triunfal!


Eu queria tanto voar e voei!
Tornei-me, assim, confidente
de um albatroz imponente,
que pousou suavemente
no cais da minha mente.

BH/MG
2006
Inspirada numa canção de Altay Veloso.